Olá!
Chegamos em Tordesillas, um pouco antes do meio-dia, no camping El Astral. Um curto acesso em terra arenosa e a simples entrada, não revelam a ótima qualidade do local: áreas para mhomes e trailers separadas e delimitadas; banheiros limpíssimos, modernos, aquecidos e (pasmem), com música ambiental clássica! Atendimento muito bom, exemplar. (N 41º29’47” W 05º00’19”). Diária €21 (mhome+2 pessoas+luz).
Colocamos as roupas na lavadora, fizemos almoço e, para nossa surpresa, reencontramos o grupo de trailers holandeses e um casal de suíços. Descansamos e organizamos o mhome enquanto as roupas secavam.
Tordesillas está nas margens do rio Duero, local onde os romanos começaram o povoamento. Na época medieval foi construída uma ponte, que contribuiu para seu desenvolvimento econômico e social. O auge da cidade foi em 07 de junho de 1494, na assinatura do Tratado de Tordesillas, “entre os reinos de Castela e Portugal, que definia os limites que correspondiam a cada Coroa, das terras já descobertas ou à descobrir. A linha, dividia o Atlântico de pólo a pólo, a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, ficando o hemisfério ocidental para Castela e o oriental para Portugal”. Atualmente, a cidade tem cerca de 10 mil habitantes (na época do Tratado tinha 3.500 habitantes), tem intensa atividade turística, comercial e social.
À tarde, após a institucionalizada siesta espanhola, onde tudo funciona antes ou depois (flexível, entre as 14 e 16h), caminhamos até a cidade (uns 600m); fomos ao Museu de San Antolin, antiga igreja, em estado bastante ruim, mas a vista desde o terraço é surpreendente, pena que a escadaria seja muito estreita (em caracol) e com muitos degraus.
Depois fomos na Oficina de Turismo, na antiga Casa del Tratado de Tordesillas, com pequeno museu. Parece inimaginável poder “tocar” na história deste modo, pois a 520 anos, nesta mesa, Portugal e o reino de Espanha (ainda sendo criado) dividiam o mundo por esta linha imaginária (passava pela hoje cidade de Laguna, em Santa Catarina).
Um fato importante, que raramente é citado: todas as três naus da frota, pertenciam aos navegadores ou comerciantes locais, que “investiram” neste possível descobrimento. Ali, sente-se uma emoção extraordinária, um local de decisão mundial e histórica, pois enquanto o Brasil nem havia sido “descoberto”, aqui na Europa a cultura já estava acontecendo, haviam mestres de pintura, música e literatura, e em pleno período do Renascimento.
Fomos até a Plaza Mayor, procurar por um café, mas a aparência deles não era convidativa. Caminhamos até a Avenida Valladolid, onde há o supermercado Alimerka, compramos deliciosos salgados, doces, um refri e sentamo-nos na praça, a lanchar e observar a histórica paisagem.
No domingo, fomos novamente à cidade, visitamos o Monastério de Santa Clara, que foi construído como palácio para o Rei Afonso XI, com forte influência mourisca, continuado pelo filho Pedro I (não é o português). Este doou para sua filha Beatriz que o transformou em Monastério. Ainda observam-se algumas portas, arcos, detalhes originais. Infelizmente, não permitem fotos.
Na igreja do monastério, há um teto abobadado em madeira policromada, característica dos construtores árabes. Também ainda existem boa parte dos banhos árabes e, nos fundos da igreja, algumas pinturas e arcos.
Caminhamos mais um pouco pelo centro e, na Igr. San Pedro (lotada) assistimos uma cerimônia de 1ª comunhão, ocasião em que podemos entrar e vê-la. Todas as outras igrejas estavam fechadas (abrem apenas para as missas). O prédio do Antigo Hospital Mater Dei está em ruínas.
Voltamos, e almoçamos no restaurante do camping: saboroso entrecot de ternera com salada e fritas, chopp e acesso à internet como sobremesa. À tarde, aproveitamos para descansar e ir à prainha do rio ver os filhotes de ganso.
Novo dia e, após os deságues, fomos para a estrada, apenas 90km e chegamos em Salamanca. Há um estacionamento embaixo da ponte Sanches Fabrez, central mas muito simplório, ficamos porque haviam mais 2 mhomes que iriam passar a noite ali.
Salamanca atualmente tem 160 mil habitantes, dos quais 35 mil são estudantes; possui uma das mais antigas universidades da Europa (1218); o centro histórico pode ser percorrido tranquilamente a pé; relevantes comércio, serviços e turismo .
Almoçamos no mhome e fomos passear: visitamos o Ieronimus (torres medievais das catedrais – nova e antiga). O começo da visita é agradável, há paradas e salas, mas ao chegarmos no primeiro terraço, sobre o telhado da nave, o visual é fascinante mas o forte vento quase nos carrega. Passamos para a Catedral Nova, e saímos sobre uma passagem estreita e geradora de vertigens. Todos os visuais são encantadores. Não conseguimos subir o lance final de escadas, para chegar até a parte alta (muito alta), com escada em caracol, degraus estreitos e altos, corrimão quebradiço, vento forte,…
Ao descermos, fomos visitar as catedrais (nova e antiga), agora no chão (!). A catedral antiga (séc. XII), possui imensas colunas com cerca de 4m de diâmetro na base, dimensões gigantescas, pinturas e altares em madeira esculpida e policromada, algumas esculturas em pedra. Felizmente não a demoliram quando da construção da nova…
A catedral nova (séc. XVI), também imensa, gótica, altares ricamente ornamentados; belíssimo e bem preservado cadeiral do coro, sua cúpula é indescritível, maravilhosa. Com a planta pode-se observar melhor as duas…
Passeamos mais um pouco pelo centro, entramos na Casa das Conchas (atual biblioteca); fotografamos a Clerecía e a Universidade (sec. XIII).
Na Oficina de Turismo (Plaza Mayor), a Sra. Joana nos atendeu muito bem, dando boas orientações. Ao voltar para o mhome, na Calle Mayor, compramos camisetas na simpática lojinha “Patio Chico”, da Sra. Maria José, gentil proprietária.
Mais algumas fotos da Universidade com sua belíssima fachada de fundo e pátio interno com colunas. Fomos descendo pela lateral até chegarmos ao mhome. Esfriando e ventando bastante, com chuva forte e contínua durante a noite.
Pela manhã, fomos para o Camping Regio (N 40º56’53,7” W 05º36’53,0”), que dista 5km de Salamanca, na cidade de Santa Marta de Tormes. O camping é parte do conjunto hoteleiro Regio (5*), tudo muito bem organizado, moderno (€20 mhome+2 pessoas+luz+internet). Há um restaurante no luxuoso hotel, que dá descontos aos campistas (com ótimas opções de refeição).
Tomamos ônibus e fomos passear na cidade; a primeira parada foi no Museu da Automoción (automóvel e sua história), com uma centena de veículos, peças, motores, ferramentas, painéis, documentos,…. Há também uma remontagem de antiga oficina, com as máquinas e equipamentos movidos por único grande motor elétrico, que distribuía o movimento por eixos e polias no teto, acionando as máquinas por correias e engrenagens.
O museu é particular, com algum auxílio governamental; inaugurado em 2002, possui veículos da coleção Gomez Planche, bem como de outros particulares e instituições. São 4.200m2; com muitos automóveis em seu perfeito estado original (déc. 20-40).
Começamos a subida (cansativa) até o centro, visitamos detalhadamente a “Logia Masónica” (fotos proibidas) com seu belíssimo e completo museu (Centro Documental de la Memoria Historica), depois alguns belos edifícios e igrejas pelo caminho.
Almoçamos num fast food (pela estratégia e praticidade), caminhamos pela Calle Zamora com mais alguns prédios lindos, e para nossa alegria, encontramos uma filial da Panificadora Granier, com seus deliciosos fartones. No final da Calle Zamora, fica a igreja San Marcos, fechada e curiosamente redonda.
Cansados, e esfriando muito, voltamos para camping com o ônibus (30 min) e logo começou a chuva novamente. À noite, fomos no restaurante encomendar merluza com salada para jantar no mhome, que saboreamos com o consagrado Los Molinos, tempranillo tinto.
Novo dia, apesar do vento gelado (sensação de 0ºC); fomos para a cidade tentar (pela 3ª vez) visitar a Clerecía e Universidade, que tem apenas visitas guiadas em horários marcados. Ao chegarmos para a visita das 10:30h, pagamos os ingressos, colamos no peito os adesivos de “permissão” e a atendente pediu para aguardarmos, pois a visita iniciaria em 5 minutos. Mas após nos dar as orientações, “lembrou-se” que um grupo havia feito a reserva (!) e teríamos que esperar fora até o próximo horário (11:30h). Desistimos…
Fomos até o convento Las Dueñas, onde há belo pátio mourisco, um pequeno museu e belo roseiral. Visita rápida pois são poucos os espaços abertos.
Em seguida, no Convento San Esteban (séc. XVI); fachada parece um “tapete de pedra”, claustro rico em detalhes (estilo plateresco; renascimento espanhol), após passar pela Escadaria de Soto (1553) chega-se à parte alta de onde se tem uma bela vista da catedral (desde o coro superior), com altares belíssimos, a cúpula tem 45m de altura, com detalhes incríveis.
Almoçamos novamente no fast food, visitamos o Mercado de Abastos onde compramos doces para sobremesa. Vento congelante, optamos por voltar para o mhome; decisão acertada pois logo começou a forte chuva…
Novo dia e fomos para a estrada; mas como temos liberdade (pois estamos com a casa junto), mudamos nossa rota pré-estabelecida e rumamos para o Sul, onde a previsão meteorológica está mais favorável. Fizemos breve parada em Cáceres para abastecimento (diesel e despensa); logo fomos para a estrada novamente.
Paramos em Fregenal de la Sierra, paramos por vermos muralha e castelo. Bem atendidos pelo sr. Javier, visitamos o Castillo Templário, onde estão também a Igr. Sta. Maria, a Plaza de Toros e o Mercado de Abastos. Infelizmente, as igrejas abrem apenas para os serviços; caminhamos um pouco pelas ruas (belos edifícios), e logo seguimos para a estrada.
Após quase 450km (rodados neste dia), chegamos na pequena Jabugo, conhecida pela produção do famoso “jamón de bellota capa negra”.
Jamón Ibérico é um manjar suino de sabor nobre: Os porcos são originalmente muito bem selecionados. Após a triagem, alimentam-se livres durante 18 meses, em especial com as “bolotas”, uma espécie de avelã nativa. Afirmam os especialistas que 70% da qualidade e sabor final do presunto depende deste período. Os demais 30% incluem a salga individual, a cura em secagem durante 18 meses, a bodega escura para amadurecimento e desenvolvimento de cor, aroma e sabor.
No final, as peças (pernas traseiras inteiras) vão pesar 40% menos do que no início. Um processo lento, trabalhoso e caro: faixa de cem euros cada peça.
Estacionamos na entrada da cidadela (N 37º54’49,7” W 06º43’33,7”), num pequeno local próprio para mhomes. Local tranquilo, apenas pela manhã ouvimos os ruídos da estrada.
Fomos para a estrada novamente, iríamos entrar em Huelva, mas seu enorme entorno e trânsito nos assustou. Seguimos, e alguns km estávamos na fronteira com Portugal. Paramos em Castro Marim numa A. S. muito agradável (N 37º13’13” W 07º26’40”), são 25 vagas, despejos gratuitos, água e luz pagas.
Almoçamos no mhome e depois fomos visitar o castelo; está em péssimo estado de conservação, cuja atendente não interrompe a tagarelice ao telefone nem quando emite os tickets e recebe o pagamento. Há uma bonita vista desde o alto da torre.
Optamos por seguir mais uns km, e vimos placa de camping em Conceição de Tavira: Camping Ria Formosa, muito bom, 1ª categoria (sanitários modernos e lindos, espaços delimitados, controles automatizados de entrada (mhome e pessoal), e energia elétrica com moderna conexão… tem até lavagem de mhome; €15 (mhome+2 pessoas+ luz+internet). N 37º08’42,5” W 07º36’07,1”
Vamos ficando por aqui, logo postaremos mais uma parte contando do Sul de Portugal. Até breve…
5 comentários:
Olá
Mais um excelente relato da vossa viagem. Vejo que já estão em Portugal (Tavira). Não sei se ainda vou a tempo, mas têm uma área de serviço e pernoita entre Vilamoura e Albufeira, junto à praia da Falésia, que é muito boa. O preço é 8 € por dia e tem electricidade e internet. Para abastecer a autocaravana de água é que é pago (2,5 €). Vai-se a pé para a praia. Boa continuação.
Obrigados pela dica. está anotada e à tempo...
abraços
San e Dan
Muito legal!!! Estávamos agora comentando que é possível viajar um pouco lendo as informações e observando as fotos! ! Parabéns! Seus relatos são maravilhosos uma verdadeira aula. .. Abraços
Hola queridos amigos. Soy Irene, de la Oficina de Turismo de Palencia. Agradeceros que me hayáis nombrado, y espero que os gustase y disfrutaseis de esta pequeña ciudad. Y, por supuesto, espero que este viaje que están realizando le estén disfrutando. Las fotos y las entradas que realizáis son una maravilla.
Un saludo con cariño.
Irene
Hola Irene!! Gracias por su visita!
Palencia és una maravillosa ciudad (pequeña y acojedora); las construcciones historicas, iglesias, el parque Dos Islas, y claro, la area de servicio para autocaravanas; son fantasticos!!.
Logramos que muchos más autocaravanistas passem por Palencia, y que sean tambíen atendidos por usted.
Gracias, y saludos fraternos!!
San & Dan
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